
Lembranças de uma jovem escritora - Carrossel Capítulo 5
Como alfinetar uma pessoa: passo 1
Publicado em 08/01/2023Maria Joaquina mais uma vez demostra sua arrogância, mas Beatriz Palillo não fica em silêncio.
Cena 1
Foi o Sr. Firmino quem nos guiou até a sala. Estávamos a espera da professora enquanto fazíamos coisas de nosso próprio interesse. Algumas meninas brincavam de cirandinha no fundo da sala (Embora sem música alguma), Jaime ficou de bobeira em uma das carteiras, Adriano desenhava uns troços esquisitos em um papel de caderno (ele chama de arte abstrata, mas eu já vi esse tipo de pintura e posso dizer que o dele não é lá tão parecido).
De repente meus olhos batem em Cirilo Riveira, um colega de classe. Se dirigia para a Macarrão Sem Molho (irei chamá-la assim até eu saber qual é realmente seu nome) com um sorriso estampado na cara e um pote em suas mãos do qual eu não consegui identificar o que tinha dentro. Cirilo parou diante da menina:
- Você que é a aluna nova? - Perguntou ele com cara de "bobo apaixonado". Por que ele está assim?
- Sou - Respondeu com azedume a mexer no próprio cabelo.
Só de ouvir esse tom de voz me deu vontade de meter a porrada nela. Nunca fui uma garota de muita paciência, então jamais espere esse tipo de sentimento vindo de mim.
- Fiquei muito contente por ser da nossa turma - Continuou inocentemente. - Eu já até sei o seu nome. É Maria Joaquina. O meu é Cirilo.
Por um momento achei ter ouvido Maria Chatonilda e segurei a risada que estava prestes a sair de mim. Você já teve ranço de alguém até esse ponto?
Voltei a prestar atenção na conversa que até então começava a me interessar. Reparei Cirilo oferecer a mão para a loira apertar. Continuei a observar o momento com uma leve preocupação. Cirilo era um garoto muito bom e sensível e se Maria Joaquina magoasse seus sentimentos eu jamais seria capaz de a perdoar.
- Tanto faz - Retorquiu grosseiramente.
Fitei a metidinha com raiva pura, mas ela não podia perceber já que sua posição não era de frente com a minha. Maria Chatonilda virou a sua cara para ele, apoiando-a na sua mão. Cirilo tentou mais um vez e nessa hora eu já estava gritando:
Cirilo, tu para! Eu estou tentando agir como uma criança civilizada aqui! Com você praticamente invocando o azedume dessa menina eu não vou conseguir, não, meu filho!
- Olha esse pote de minhocas - Disse ele direcionando o pote que estava em suas mão à ela.
"Ai meu Deus"... Pensei já esperando pela treta que ia dar. O garoto me fazia quase ter um infarto, pois eu estava sofrendo pelo o seu futuro.
A Maria Chatinha se levantou de sua cadeira, afastando-se do Cirilo com óbvia repulsa demonstrado em sua face.
- Ai, que nojo! - Exclamou - Leva esses bichos para bem longe de mim, seu sujo!
Senti meus olhos arregalarem e minha boca se formar em "O" de tamanha indignação. Cirilo abaixou a cabeça (literalmente) e se retirou. Me senti mal por ele.
Por que alguém recusaria um pote de minhocas? São bichos tão interessantes! Não entendo essa gente.
- Avançar
Cena 2
Estava pensando em ir até Cirilo para o consolar (já que Marcelina fez o favor de fazer o mesmo com Maria Joaquina por mim), mas ele o fez antes:
- Bia - Me chamou tentando parecer mais feliz. Meu sentimento de compaixão por ele cresceu ainda mais.
- Sim, Cirilo? - Respondi gentilmente e com um sorriso acolhedor no rosto (ou foi como espero ter tentado parecer).
- Sei que você gosta muito desse tipo de coisa, então... - Ele aproximou o pote de minhocas na minha cara. Ficou tão próximo que eu tive que afastar meu rosto um pouco. - Quer ficar?
Sorri com uma animação fora do comum que alguém teria ao ganhar esse tipo de presente. Amo coisas que tem relação com a natureza e seus mistérios, incluindo insetos. Por causa disso algumas pessoas tendem a achar que eu tenho um gosto esquisito. Compartilho esse mesmo gosto com meu irmão, Jaime (embora ele desgoste de borboletas e joaninhas, por achar ser coisa de menina, no que eu discordo). Só fiquei meio chateada por ser a segunda opção de Cirilo, mas acho que podemos relevar essa parte.
- Claro! - Agarrei o objeto das mão de meu amigo com muito bom gosto. - Obrigada, Cirilo!
Dei um beijinho na sua bochecha para compensar secretamente o mal-trato da Maria Joaquina. Levantei-me e fui até Jaime, sabendo que ele ia se interessar nas minhocas. Dei uma ligeira olhadela em Cirilo, que voltava a interagir com (verdadeira) alegria.
Percebi que Maria Joaquina me encarava de sua carteira. Indaguei à ela com o máximo de educação possível:
- Perdeu alguma coisa? - Falhei miseravelmente enquanto fazia voz de sonsa. Se essa é minha educação forçada, então imagina como eu sou quando encarno a má-educação.
- Eu nada, mas pelo visto você sim, né? - Disse me com seus olhos me percorrendo de alto a baixo. Como e detesto esse tipo de olhar!
- O que quer dizer com isso? - Jaime se intrometeu com mal-humor.
- É, poderia por obséquio me mostrar o que perdi? - Debochei propositalmente.
- A sua normalidade, claro - Respondeu como se fosse óbvio.
Meu irmão não fez nada para defender, apenas me olhou com diversão. Sabia o que naquele momento eu não precisava de sua proteção e você já vai entender o porquê.
- E por acaso, ser normal é ser como você? - Questionei com falsa curiosidade.
- Uma doida varrida é que eu não sou.
- Se é assim, então prefiro ser a pessoa mais maluca do mundo - Sorri de maneira debochada e puxei Jaime (esse dava a língua para uma Maria Joaquina indignada) para outro canto.
Continua no próximo capítulo
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